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Só na casa dos 60
Reportagem de Thais Cavalheiro para a Revista Saúde:

Os gatilhos que levam as pessoas a atacar a geladeira nem sempre são aqueles já conhecidos de quem faz dieta – a ansiedade, por exemplo. Em busca de novas pistas para essa velha questão, a cientista Janet Tomiyama, do Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, participou de um estudo com colegas de outra universidade americana, a da Carolina do Norte, e concluiu: “Mesmo entre os que não fazem grandes sacrifícios para emagrecer, é a fome que os leva a escapar da dieta – o que é até uma razão saudável para comer.” Quer dizer, então, que as emoções não influem tanto na comilança desenfreada? “Na verdade, as alterações de humor interferem, sim, nos excessos, mas essa é uma razão secundária”, respondeu a pesquisadora a esta seção.

Durante a investigação, 137 voluntárias relataram em um diário seu comportamento à mesa e a quantidade de porções ingeridas. Diferentemente dos alegados motivos para driblar o regime – a ansiedade entre eles –, a maioria não exagerava nas quantidades em resposta à ansiedade. E, na presença de emoções – negativas ou positivas –, chegavam a comer menos. Por fim, a fome pura e simples foi apontada como a principal causa do descontrole. A conclusão leva a uma pergunta inevitável: “Não parece óbvio que quem tem bom apetite acaba comendo mais?” “Sim”, concorda Janet.

“Mas o valor do trabalho está na desmitificação dos outros fatores tradicionalmente associados à maior ingestão de alimentos, e que sempre servem de desculpa para as derrapadas. Além do mais, isso também ajuda a pensar em estratégias de emagrecimento que podem ser bem-sucedidas.”

A distração pura e simples é comprovadamente um fator importante no aumento do peso. É o caso de quem come enquanto assiste à televisão ou continua à mesa mesmo após terminar a refeição, provando mais um bocadinho enquanto bate papo. “Não sou nutricionista, mas nosso estudo sugere que evitar esse tipo de comportamento é uma boa saída para emagrecer ou mesmo estacionar o ponteiro da balança. Também ajuda procurar um amigo para conversar ou mesmo dar uma volta sempre que vier a vontade de ir em busca de comida.”

Outra reportagem da mesma jornalista para a Revista Saúde ainda sobre este tema:

Você leva a primeira garfada à boca e começa a mastigar. Que delícia! O prazer de saborear um bom prato, porém, faz acelerar o ritmo da comilança. Eis a grande armadilha: não esperar pelo menos 20 minutinhos para que o cérebro entenda que você já está satisfeito. Só quando cai a ficha lá na massa cinzenta, é que entra em cena o PYY, o hormônio da saciedade. “Está mais do que comprovado: quem mastiga com calma, em vez de encarar as refeições como um rali de velocidade, certamente come porções menores”, informa o pesquisador Hiroyasy Isso, que investiga assuntos relacionados à obesidade no Departamento de Medicina da Universidade de Osaka, no Japão.

Em outras palavras, é uma questão de comportamento, conforme aponta seu estudo. Juntamente com seus colegas de equipe, Hiroyasy Isso recrutou 1.122 homens e 2.165 mulheres com idades entre 30 e 69 anos. Passou, então, a indagar sobre seus hábitos à mesa, levando em conta também o índice de massa corporal de cada um deles. Os estudiosos descobriram que praticamente a metade dos varões e um pouco mais da metade das voluntárias só paravam de comer após se sentirem completamente saciados. Em comum, eles compatilhavam este perfil: eram o que se pode chamar de comedores rápidos.

A etapa seguinte foi comparar esses dois grupos com os participantes que não iam com tanta sede ao pote, por assim dizer. Resultado: os homens e as mulheres que comeram até não ter mais um pingo de vontade tinham duas vezes mais probabilidade de chegar ao sobrepeso. Esse risco aumentava três vezes entre os que comiam até a satisfação total e ainda por cima o faziam rapidamente. “A combinação desses dois tipos de comportamento têm efeito considerável no ganho de peso”, conta Isso.

Nem só as atitudes à mesa, no entanto, explicam essa relação. “Sabemos que há um mecanismo genético que nos leva a comer além da conta como forma de garantir um suprimento de energia enquanto ela está disponível”, continua o cientista japonês. E ele finaliza: “Também contribui para o consumo desnecessário de calorias o fato de que muita gente hoje em dia come distraído, sem prestar atenção no que está pondo no prato.”

Complementando com a reportagem de Adriana Toledo para a Revista Saúde sobre saborear o alimento para emagrecer:

Apreciar os alimentos com calma ajuda a perder peso garante o pesquisador americano Alan Hirsch. Em seu estudo para o prestigiado instituto de pesquisa Smell & Taste Treatment and Research Foundation, nos Estados Unidos, ele separou 2436 voluntários obesos em dois grupos: o primeiro ingeriu comidas condimentadas com flavorizantes para acentuar o sabor, enquanto o segundo teve que se contentar com refeições sem graça. Após seis meses, a turma dos petiscos apetitosos emagreceu bem mais do que a outra. O aroma e o sabor ativam com maior rapidez os mecanismos do cérebro relacionados à saciedade, explica Hirsch. Procure fazer a refeição sem pressa, concentrando-se no gosto e na textura de tudo o que estiver no prato, ensina a nutricionista Anna Castilho, do Instituto de Metabolismo e Nutrição, em São Paulo. Vale apostar nos temperos que aguçam o paladar.

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